Alopécia Androgenética: É possível tratar sem transplantes?

A Alopécia Androgenética é a forma mais comum de queda de cabelo, tanto em homens quanto em mulheres. Afeta milhões de pessoas em todo o mundo e se relaciona a fatores genéticos e hormonais. Essa condição afeta significativamente a autoestima e a qualidade de vida dos pacientes.

TRICOLOGIA

Dra. Maria Luiza C. M. G. R. Barros

8/8/20257 min read

O que é a Alopécia Androgenética?

A alopecia androgenética (AGA) é uma das formas mais comuns de perda capilar, afetando homens e mulheres de forma progressiva. Caracteriza-se pela miniaturização dos folículos pilosos induzida pela ação da di-hidrotestosterona (DHT) nos receptores androgênicos. Embora o transplante capilar seja uma opção cirúrgica, cada vez mais estudos científicos comprovam que o tratamento clínico, quando bem conduzido e iniciado precocemente, pode oferecer excelentes resultados.

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e estudos recentes, a AGA acomete até 80% dos homens e até 50% das mulheres ao longo da vida (SBD, 2023). Nos homens, a perda segue o padrão de Hamilton-Norwood, enquanto nas mulheres, o padrão de Ludwig é o mais observado, com rarefação difusa no topo do couro cabeludo (figura 01). Indivíduos caucasianos são notavelmente mais afetados, seguidos por asiáticos e afro-americanos e, posteriormente, por populações nativas americanas e inuítes. A incidência está intimamente relacionada à idade em homens caucasianos, já que aproximadamente 50% são afetados aos 50 anos e aproximadamente 80% aos 70 anos. O transtorno é bastante comum em mulheres, com sua incidência apresentando um aumento notável após a menopausa.

Tratamento

Diversas abordagens terapêuticas não invasivas têm respaldo científico e podem ser conduzidas por profissionais capacitados. Entre as opções estão:

  • Minoxidil 5% tópico: ação vasodilatadora e aumento da fase anágena.

  • LEDterapia (fotobiomodulação): estimula a atividade mitocondrial, aumentando a energia celular folicular.

  • Microagulhamento capilar: melhora a penetração de ativos e estimula fatores de crescimento locais.

  • Suplementação oral direcionada: Estudos indicam que deficiências nutricionais contribuem para queda capilar.

Ativos mais utilizados:

  1. Biotina (Vitamina B7) – estimula o metabolismo de ácidos graxos essenciais aos folículos.

  2. Pantenol – melhora a hidratação e integridade da haste capilar.

  3. Cafeína – inibe os efeitos da DHT de forma tópica.

  4. Niacinamida – ação anti-inflamatória e melhora da microcirculação.

  5. Zinco quelado – cofator de enzimas antioxidantes e regulador hormonal.

  6. Vitamina D3 – receptores da vitamina D estão presentes nos folículos capilares.

  7. Queratina hidrolisada – auxilia na reconstrução da haste capilar.

  8. Saw Palmetto (Serenoa repens) – inibe a 5-alfa-redutase de forma natural.

  9. Resveratrol tópico – antioxidante potente e estimulador folicular.

  10. Copper peptides – favorecem o prolongamento da fase anágena.

O transplante capilar é apenas uma das alternativas para tratar a alopecia androgenética. Protocolos clínicos bem conduzidos, com uso de ativos acessíveis ao farmacêutico esteta e estratégias integradas com base científica, têm mostrado excelentes resultados em diversos estudos. A chave está na avaliação precoce e no tratamento personalizado.

Avaliação Clínica

A alopécia androgenética é geralmente diagnosticada por meio de avaliação clínica, envolvendo histórico de início gradual após a puberdade e, frequentemente, mas não necessariamente, histórico familiar de calvície. Outros exames-chave que podem ser realizados são a biopsia, caso o diagnóstico seja incerto e a dermatoscopia, que pode revelar cabelos miniaturizados e moldes peri-hilares castanhos, auxiliando na distinção da alopecia areata difusa, que se assemelha à calvície de padrão masculino. A alopecia areata difusa apresentará fraturas afiladas, como pelos em ponto de exclamação.

Devem ser avaliados:

➤ Histórico:

  • Início, duração e progressão da queda

  • Presença de antecedentes familiares (história materna e paterna)

  • Fatores agravantes (estresse, dietas restritivas, medicações)

  • Sinais de hiperandrogenismo (acne, hirsutismo, irregularidades menstruais)

➤ Exame físico/tricológico:

  • Padrão de rarefação (Hamilton-Norwood ou Ludwig)

  • Pull test (teste de tração): identifica fase ativa da queda (eflúvio telógeno associado)

  • Tricoscopia (dermatoscopia capilar):

    • Variação do calibre dos fios (>20%)

    • Diminuição da densidade folicular

    • Presença de folículos pilosos vazios

    • Hiperqueratose perifolicular

    • Presença de vasos em “ponto de exclamação” ou “ponto de pimenta”

➤ Exames laboratoriais (quando indicados):

  • Perfil hormonal: testosterona total e livre, DHEA-S, prolactina, TSH, ferritina

  • Glicemia e insulina de jejum (para investigar resistência insulínica)

  • 25-OH-vitamina D e zinco (deficiências comuns)

Realizar uma revisão abrangente dos sistemas, histórico médico e regime medicamentoso atual é importante para descartar causas alternativas para a queda de cabelo como eflúvio telógeno crônico, alopecia fibrosante frontal, líquen plano pilar ou alopecia areata e identificar potenciais gatilhos para a manifestação da alopecia androgenética.

Exames adicionais podem incluir estudos da tireoide, hemograma completo e triagem para deficiência de ferro por meio de avaliações dos níveis séricos de ferro, capacidade total de ligação do ferro e níveis séricos de ferritina. Se houver suspeita, a triagem para sífilis também pode ser considerada. Além disso, a realização de uma breve avaliação psiquiátrica para identificar sinais de sintomas depressivos e outros transtornos psiquiátricos também pode ser justificada para todos os pacientes que buscam avaliação dermatológica para queda de cabelo.

Figura 01. Padrão Hamilton-Norwood para homens de queda capilar e Ludwig para mulheres respectivamente. É a distribuição androgênica dos receptores capilares  que explica o padrão de rarefação observado — na linha frontal e no vértex nos homens (padrão de Hamilton-Norwood) e na região central difusa nas mulheres (padrão de Ludwig).

Patofisiologia

A alopecia androgenética possui uma predisposição genética distinta, tem natureza poligênica e de graus de penetrância variados, tendo influência de genes maternos e paternos. Isto significa que vários genes contribuem para a ocorrência da condição, e que a presença de tais genes não garante que a condição realmente irá ocorrer. Como resultado há uma resposta excessiva aos andrógenos decorrente das ações tanto do metabolismo hormonal quanto dos receptores de andrógenos.      Fatores

A ativação do receptor de andrógeno encurta a fase anágena, ou fase de crescimento, dentro do ciclo normal de crescimento capilar - cada fio de cabelo é formado em um folículo piloso que passa por quatro fases, divididas didaticamente em anágena (fase de crescimento), catágena (fase de involução), telógena (fase latente ou de repouso) e exógena (queda de cabelo). Aproximadamente 80% a 90% dos cabelos estão na fase anágena, que dura de 2 a 6 anos e determina o comprimento do cabelo. Menos de 5% dos cabelos estão na fase catágena, enquanto o restante está na fase telógena. A fase exógena natural envolve a queda de cerca de 100 fios por dia.

Indivíduos com alopecia androgenética apresentam produção elevada de di-hidrotestosterona (DHT), níveis elevados de 5-alfa-redutase e maior abundância de receptores de andrógenos nas áreas do couro cabeludo afetadas pela calvície. Esse ambiente androgênico elevado no couro cabeludo contribui para ao encurtamento progressivo da fase anágena, levando a miniaturização progressiva dos folículos capilares e ao padrão característico de afinamento capilar, não permitindo a penetração do fio na camada epidérmica. Como consequência há eventual queda de cabelo observado na alopecia androgenética.

Existem duas isoformas primárias da enzima 5 alfa-redutase. Esta enzima converte testosterona em DHT, um composto com maior afinidade pelo receptor de andrógeno. A isoforma Tipo 1 da enzima 5 alfa-redutase é distribuída nas glândulas sebáceas, queratinócitos e glândulas sudoríparas. Por outro lado, as enzimas 5 alfa-redutase Tipo 2 residem predominantemente na bainha radicular externa dos folículos pilosos, epidídimo, ducto deferente, vesículas seminais e próstata. Esta isoforma da enzima 5 alfa-redutase é a que desempenha um papel mais significativo na alopecia androgenética.

Prognóstico

A alopecia androgenética, como condição isolada, não é considerada uma condição com risco de vida e não resulta diretamente em mortalidade. No entanto, em alguns casos, essa condição pode estar associada a outras patologias graves subjacentes que podem coexistir em um paciente e potencialmente contribuir para desfechos adversos à saúde.

Diversos fatores, incluindo início precoce, gênero, área de superfície afetada, histórico familiar, opções de tratamento, adesão ao tratamento e fatores de estilo de vida, podem influenciar o prognóstico da alopecia androgenética. Este é altamente individualizado, com desfechos variando de pessoa para pessoa. Embora a alopecia androgenética seja uma condição crônica e progressiva, a intervenção precoce e estratégias de tratamento adequadas podem ajudar a diminuir a queda de cabelo ao longo do tempo, potencialmente levando a melhores desfechos para o paciente.

O curso da AAG é progressivo e irreversível se não tratado. Quanto mais precoce a intervenção, melhores os resultados. Pacientes que iniciam tratamento ainda na fase de miniaturização conseguem preservar folículos ativos e promover espessamento dos fios. A adesão ao tratamento é fundamental: resultados expressivos são observados após 6 a 12 meses de uso contínuo das terapias. É importante reforçar que o tratamento é de manutenção prolongada, e a interrupção leva à regressão dos resultados.

como resistência periférica à insulina, hiperandrogenismo, estresse oxidativo e inflamação subclínica contribuem para agravar a fisiopatologia, especialmente nas mulheres.

Conclusão

A alopecia androgenética é uma condição prevalente que pode impactar significativamente a aparência e a autoestima de homens e mulheres. Embora amplamente conhecida por seu caráter estético, a alopecia androgenética reflete desequilíbrios hormonais, predisposição genética e envelhecimento folicular. Por isso, sua abordagem deve ir muito além de fórmulas prontas: exige avaliação minuciosa e condutas personalizadas.

No Centro de Saúde Rego Barros oferecemos não apenas atendimento clínico personalizado, mas também uma abordagem integral, considerando todos os detalhes que estão levando a queda capilar e tratando você de maneira interdisciplinar.

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